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O que faziam os astronautas da Apollo 11 na véspera do pouso na Lua

Há exatos 50 anos, Armstrong, Aldrin e Collins entravam na órbita lunar e viam o satélite de perto pela janela da nave pela primeira vez, nos preparativos finais da histórica missão

A Lua vista pela janela do comandante Neil Armstrong no módulo lunar da Apollo 11, na véspera do pouso: diálogos revelam encantamento e muito trabalho nos preparativos
Foto:
Nasa
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Nasa
A Lua vista pela janela do comandante Neil Armstrong no módulo lunar da Apollo 11, na véspera do pouso: diálogos revelam encantamento e muito trabalho nos preparativos Foto: Nasa / Nasa

RIO — Sábado, 19 de julho de 1969. Três dias depois de partirem da Terra a bordo do Saturno V, o mais poderoso foguete já construído pela Humanidade, Neil Armstrong , Edwin “Buzz” Aldrin e Michael Collins enfrentavam um momento crucial de sua histórica missão Apollo 11 . Com o lado afastado da Lua à vista nas janelas do módulo de comando Colúmbia e sem contato com o controle em Terra, chegava a hora de acionar o motor da nave, reduzindo sua velocidade para ser capturada pela gravidade de nosso satélite e entrar na sua órbita.

VEJA : Os principais momentos da Apollo 11 em realidade aumentada

— Cara, a Lua está ali, rapazes, em todo seu esplendor — comenta Armstrong aos seus companheiros, às 75 horas, 49 minutos, 24 segundos de viagem. — Um gesso cinza para mim.

A maior viagem do Homem foi documentada pela Nasa em fotos, filmes e áudio. Cada momento foi registrado para a posteridade: a apreensão na descida do Eagle no solo lunar, o primeiro passo, o medo de pane na volta e a glória do retorno bem sucedido. Acompanhe estes momentos.
A maior viagem do Homem foi documentada pela Nasa em fotos, filmes e áudio. Cada momento foi registrado para a posteridade: a apreensão na descida do Eagle no solo lunar, o primeiro passo, o medo de pane na volta e a glória do retorno bem sucedido. Acompanhe estes momentos.

O breve deslumbramento, logo seguido por uma descrição um tanto insossa, serve como um vislumbre da personalidade do homem escolhido para comandar a Apollo 11 , e assim ser o primeiro a colocar os pés na Lua. Então único astronauta não vindo diretamente do serviço militar para o programa espacial americano, o veterano da Guerra da Coreia e depois piloto de testes da Naca — agência aeronáutica civil americana que antecedeu a Nasa, só criada em 1958 — Armstrong era conhecido como um homem calado e sisudo, mas também pela precisão, capacidade de concentração e de manter a calma em situações de emergência.

Qualidade que se mostrou fundamental no dia seguinte, quando, guiando o módulo lunar Eagle (“águia” em inglês), alarmes começaram a soar segundos antes do pouso no Mar da Tranquilidade. Ignorando os avisos e a queda na reserva de combustível, Armstrong assumiu o controle manual do módulo lunar, batizado Eagle, e o assentou em segurança na Lua, a 6,4 quilômetros do ponto previsto.

Consultor da Nasa junta tudo sobre a missão que levou o Homem à Lua em um só lugar

Aldrin, o contraponto de Armstrong

A lua vosta da janela do módulo de comando da Apollo 11, na véspera do pouso Foto: Nasa
A lua vosta da janela do módulo de comando da Apollo 11, na véspera do pouso Foto: Nasa

Ao lado de Armstrong neste momento histórico estava Edwin “Buzz” Aldrin, que apesar do posto de “piloto do módulo lunar” atuou como navegador no pouso. E os dois homens não podiam ser mais diferentes. Expansivo e falante Aldrin, 89 anos, ainda hoje atua como divulgador e fervoroso defensor da exploração humana do espaço, e seu apelido inspirou os roteiristas da Pixar ao nomearem Buzz Lightyear, o boneco astronauta da série de animação cinematográfica “Toy Story”.

— Vamos ouvir umas músicas — sugeria às 83 horas, 49 minutos e 1 segundo da missão, durante os preparativos do módulo lunar que ele e Armstrong ocupariam para o pouso no dia seguinte. — Alguém quer um saco de vômito? — emendava pouco mais de 20 minutos depois.

Mas Aldrin também era o astronauta mais “cientista” entre seus companheiros na Apollo 11. Piloto de caça veterano da Guerra da Coreia, depois do conflito fez mestrado e doutorado em astronáutica no prestigioso Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). Assim, são dele algumas das descrições mais detalhadas das características do solo e da superfície lunar, no que resumiu como uma “magnífica desolação” ao dar seus primeiros passos na Lua.

— Vejam aquelas crateras em sequência — chamava a atenção dos companheiros às 76 horas, cinco minutos e dois segundos de missão, durante a primeira passagem pelo lado afastado da Lua após a bem-sucedida manobra para entrada em órbita, e ainda sem contato com a Terra. — Vejam como estão em linha. Algo “salpicou” mesmo aquele lugar.

Em seguida, os três se prepararam para observar, e tentar fotografar, o primeiro “nascer da Terra” que veriam durante a missão. A orientação da nave após a manobra de entrada em órbita, no entanto, colocou o módulo lunar na linha de visão de Collins, que estava com a câmera pronta, impedindo o flagrante.

— (Você terá) muitos nasceres da Terra — consolou Aldrin.

As viagens de ida e volta
A missão Apollo 11 teve que aguardar a combinação perfeita entre a rotação da Terra e a posição da Lua, a chamada janela de lançamento, para chegar no nosso satélite natural. Assim, 16 de julho de 1969 foi o dia escolhido para a partida. Caso houvesse algum problema que forçasse o adiamento do lançamento, que ocorreu às 9h32m (no horário local da Flórida), uma nova oportunidade só ocorreria em agosto. A missão durou oito dias, 3 horas e 18 minutos
1
16 de julho
TRAJETO
Ida
Volta
LANÇAMENTO
Cabo Canaveral, Flórida
Após o consumo de todo combustível, o 1º estágio e, posteriomente, o 2º estágio são descartados
2
2
1
12
11
24 de julho
Às 12h50m, o Colúmbia cai no Oceano Pacífico. O módulo, com os três tripulantes, é resgatado pelo porta-aviões USS Hornet
11
A reentrada
3
Um escudo térmico com várias camadas de uma resina especial foi usado para proteger os astronautas do calor gerado pela fricção com a atmosfera
3
O 3º estágio é acionado por 5m48s, pondo a Apollo 11 na rota para a Lua
Manobra no espaço
4
24 de julho
Os módulos de comando e serviço soltam-se do terceiro estágio, junto ao qual está armazenado o módulo lunar
Às 12h21m, o módulo de serviço é deixado para trás. O Colúmbia inicia a reentrada na atmosfera da Terra
4
Sob o coman-
do de Collins, os módulos de comando e serviço giram e se voltam para acoplar com o lunar, já na posição para a descida na Lua
Ponto de
inserção
na órbita
LUA
Pouso
3º estágio
Ponto do início
da descida
Pouso
Lançamento
Módulo lunar
Órbita do “Colúmbia”
Módulo de comando
TERRA
Lançamento
Módulo de serviço
Acionamento
dos foguetes
para volta à Terra
O terceiro estágio do Saturno V é abandonado
8
21 de julho
Às 13h54m, o Eagle inicia o retorno ao módulo de comando
Às 17h35m a manobra é concluída. Armstrong e Aldrin voltam ao módulo de comando, e o módulo lunar é ejetado
9
10
22 de julho
À 0h51m, os propulsores do módulo de comando são acionados para o retorno à Terra
7
20 de julho
Às 16h17m, o módulo Eagle pousa na Lua
Estágio de
ascensão do
módulo lunar
9
8
10
7
5
6
20 de julho
Às 13h44m, a bordo do módulo lunar, Armstrong e Aldrin se desconectam do módulo de comando, onde Collins ficará até o final da missão
5
19 de julho
6
Às 13h27m, a Apollo 11 entra na órbita da Lua
As viagens de ida e volta
A missão Apollo 11 teve que aguardar a combinação perfeita entre a rotação da Terra e a posição da Lua, a chamada janela de lançamento, para chegar no nosso satélite natural. Assim, 16 de julho de 1969 foi o dia escolhido para a partida. Caso houvesse algum problema que forçasse o adiamento do lançamento, que ocorreu às 9h32m (no horário local da Flórida), uma nova oportunidade só ocorreria em agosto. A missão durou oito dias, 3 horas e 18 minutos
TRAJETO
Ida
Volta
16 de julho
1
LANÇAMENTO
Cabo Canaveral, Flórida
2
1
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11
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10
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Após o consumo de todo combustível, o 1º estágio e, posteriomente, o 2º estágio são descartados
2
O 3º estágio é acionado por 5m48s, pondo a Apollo 11 na rota para a Lua
3
Manobra no espaço
Os módulos de comando e serviço soltam-se do terceiro estágio, junto ao qual está armazenado o módulo lunar
O terceiro estágio do Saturno V é abandonado
4
19 de julho
5
Às 13h27m, a Apollo 11 entra na órbita da Lua
20 de julho
6
Às 13h44m, a bordo do módulo lunar, Armstrong e Aldrin se desconectam do módulo de comando, onde Collins ficará até o final da missão
20 de julho
7
Às 16h17m, o módulo Eagle pousa na Lua
21 de julho
8
Às 13h54m, o Eagle inicia o retorno ao módulo de comando.
21 de julho
9
Às 17h35m a manobra é concluída. Armstrong e Aldrin voltam ao módulo de comando, e o módulo lunar é ejetado
22 de julho
10
À 0h51m, os propulsores do módulo de comando são acionados para o retorno à Terra
A reentrada
11
Um escudo térmico com várias camadas de uma resina especial foi usado para proteger os astronautas do calor gerado pela fricção com a atmosfera
24 de julho
Às 12h21m, o módulo de serviço é deixado para trás. O Colúmbia inicia a reentrada na atmosfera da Terra
24 de julho
12
Às 12h50m, o Colúmbia cai no Oceano Pacífico. O módulo, com os três tripulantes, é resgatado pelo porta-aviões USS Hornet

Collins, o humano mais solitário da História

O comentário é uma referência ao fato de que, enquanto Armstrong e Aldrin exploravam a superfície da Lua no dia seguinte, o terceiro integrante da missão, Michael Collins, ficou sozinho em órbita lunar, a bordo do módulo de comando Colúmbia. Assim, a cada passagem pelo lado afastado do satélite, sem contato com o controle da missão em Terra ou mesmo com seus colegas astronautas no satélite abaixo por 48 minutos de cada vez, Collins se tornava o humano mais solitário e isolado da História.

Tempos depois, porém, Collins relatou que durante as 21,5 horas que passou orbitando a Lua no Colúmbia com Armstrong e Aldrin abaixo dele, o que mais o incomodou não foi a solidão, mas o temor de ter que voltar sem os colegas caso algo desse errado. Nervosismo que deixou transparecer em novo diálogo gravado quando estavam passando pelo lado afastado da Lua, sem contato com a Terra e se preparando para dormir:

— Buzz? — chama Collins às 85 horas, 57 minutos, 16 segundos de missão, tendo como resposta resmungos dos dois colegas então ocupados em se arrumar nas roupas que usariam por baixo dos trajes espaciais com os quais andariam na Lua no sia seguinte. — Bem, acho que hoje foi tudo bem. Se amanhã e depois forem como hoje, estaremos a salvo.

Talvez procurando disfarçar este temor, Collins também aparece nas gravações da Apollo 11 como o principal “piadista” do grupo. Depois que o jornal soviético “Pravda” apontou Armstrong como o “czar” da missão, já quando estavam a caminho da Lua, Collins por diversas vezes se referiu assim ao comandante. Ou quando Aldrin falou das crateras “salpicadas” na superfície lunar, quando ele respondeu:

— Só espero que nenhum destes meteoros venha justo agora.