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Vacina contra a Covid-19: o que se sabe sobre o imunizante que será produzido no Brasil

Ministério da Saúde divulgou neste sábado que, caso seja provada sua eficácia, 100 milhões de doses serão feitas no país
Pesquisador trabalha na replicação do vírus da Covid-19 para pesquisa que vai desenvolver a vacina contra a doença. Foto: DOUGLAS MAGNO / AFP
Pesquisador trabalha na replicação do vírus da Covid-19 para pesquisa que vai desenvolver a vacina contra a doença. Foto: DOUGLAS MAGNO / AFP

RIO — Neste sábado, o Ministério da Saúde anunciou que o Brasil vai produzir até 100 milhões de doses da vacina contra Covid-19 em parceria com a Universidade de Oxford, com investimento de US$ 127 milhões (cerca de R$ 693,4 milhões).

Segundo o governo, as doses só serão ministradas após a finalização dos estudos clínicos e a comprovação de sua eficácia .

Abaixo, leia perguntas e respostas com o que se sabe sobre a vacina.

As informações são de Sue Ann Costa Clemens, diretora do Instituto para a Saúde Global da Universidade de Siena e pesquisadora brasileira especialista em doenças infecciosas e prevenção por vacinas e responsável pela articulação para trazer os testes ao Brasil, e de Claudio Ferrari, do médico diretor de comunicação do Instituto D'or de Pesquisa e Ensino (Idor) e do Ministério da Saúde.

A pesquisa para a vacina está em qual estágio?

Na fase de testes clínicos, que é a última etapa. Antes disso, ela já foi testada em animais e em pequenos grupos de humanos. Até agora, nove mil pessoas já receberam doses e a pesquisa já indica que ela é segura. Só falta constatar sua eficiência, que será testada em 50 mil pessoas em diferentes países, entre eles o Brasil.

Ela é composta com o próprio vírus da Covid-19?

Não. A vacina é feita por um fragmento de proteína do vírus, o Sars-CoV-2, junto de um outro vírus (adenovírus) que, além de ser inócuo ao humano, é inativado. O RNA do coronavírus - que é capaz de se reproduzir no corpo humano e, assim, causar a doença - não é injetado no corpo humano.

Como funciona?

O adenovírus é "equipado" com uma proteína do coronavírus e injetado no humano. O sistema imunológico, então, produzirá anticorpos para combater essa proteína do coronavírus. Assim, quando o causador da Covid-19 infectar a pessoa, o corpo dela já vai reconhecer a proteína e ter as defesas necessárias.

Como Oxford chegou a essa fórmula?

Ela já utilizava essa tática para buscar vacinas contra a Mers, doença respiratória causada por outro coronavírus, e o ebola. Essas vacinas ainda estão em fase de desenvolvimento. Por conta da urgência da pandemia de Covid-19, ficaram em segundo plano.

Quando ficará pronta?

Os estudos clínicos, que podem levar pelo menos um ano, estão começando no Brasil. No Reino Unido, já acontecem há um mês e meio. A expectativa dos pesquisadores é ter o resultado da sua eficiência entre outubro e novembro. Com essa confirmação, seus primeiros lotes seriam disponibilizados em dezembro e janeiro.

O Brasil terá doses para todo mundo?

O primeiro plano do Ministério da Saúde é imunizar100 milhões de pessoas. Elas serão destinadas para idosos, pessoas com comorbidades, profissionais de saúde, professores, indígenas, pessoas em privação de liberdade, adultos e adolescentes em medida socioeducativa, profissionais de segurança pública e motoristas de transporte público.

A vacina custará caro ao governo brasileiro?

Ela custa US$ 2,30 por dose. Outras vacinas, como a da influenza, chegam a custar US$ 10.

Há contra-indicações ou efeitos colaterais?

10% das pessoas poderão apresentar um quadro gripal, com febre de leve a moderada, por no máximo dois dias.

Qual o tempo de imunização?

Baseado em vacinas similares, como a que está sendo desenvolvida para Mers, o tempo de imunização é de aproximadamente um ano.

Há outras vacinas em testes?

Ha mais de 200 tentativas. A Organização Mundial da Saúde declarou nesta semana que a mais avançada é a da Universidade de Oxford que será produzida no Brasil. Não muito atrás estão as pesquisas da farmacêutica Moderna e da chinesa Sinovac, que também deverá começar a ser testada no Brasil em julho, depois de a companhia fechar acordo com o Instituto Butantan, ligado ao governo do Estado de São Paulo.

Quem está desenvolvendo a vacina?

A Universidade de Oxford, em parceria com a farmacêutica AstraZeneca. No Brasil, os testes clínicos estão sendo conduzidos pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), pelo Instituto D'or de Pesquisa e Ensino (Idor) e pelo Grupo Fleury.