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'O jovem Ahmed': fanatismo religioso visto de modo 'seco, direto, sem excessos'

Na crítica, Bonequinho aplaude filme dos irmãos Dardenne premiado em Cannes
Idir Ben Addi e Othmane Moumen em cena do filme "O jovem Ahmed" Foto: Divulgação
Idir Ben Addi e Othmane Moumen em cena do filme "O jovem Ahmed" Foto: Divulgação

Em “O jovem Ahmed”, o público se depara com as esperadas características do cinema de Jean-Pierre e Luc Dardenne : seco, direto, sem excessos. Como de hábito, os elementos valorizados são as interpretações dos atores, a qualidade do texto e o posicionamento da câmera, frequentemente próxima do protagonista. Uma economia de recursos louvável numa época acelerada como a de hoje, em que muitos filmes exibem efeitos e exageram na trilha sonora — procedimentos utilizados para seduzir a plateia.

O modo de filmar plenamente identificável dos Dardenne não bate na tela como mera repetição de um padrão estético. Ao contrário, abre ao espectador possibilidades de acessar as questões levantadas por meio das histórias contadas. Cabe dizer que, em “O jovem Ahmed”, a fotografia de Benoit Dervaux evidencia sintonia com a obra dos diretores, sem, porém, deixar de surpreender.

Myriem Akheddiou e Idir Ben Addi em cena do filme "O jovem Ahmed" Foto: Divulgação
Myriem Akheddiou e Idir Ben Addi em cena do filme "O jovem Ahmed" Foto: Divulgação

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O universo abordado aqui é delicado: o radicalismo religioso manifestado por jovens — no caso, o muçulmano Ahmed (Idir Ben Addi), de 13 anos, que vive na Bélgica. Há alguma afinidade temática com outro filme recente, “Adeus à noite” (2019), de André Téchiné, que mostra um rapaz envolvido com o planejamento de uma ação violenta ligada à religião. Tanto na produção anterior quanto nessa dos Dardenne, parentes ou professores não conseguem interromper, através da autoridade, a adesão dos jovens ao extremismo. Mas eles não medem esforços para impedir que o pior aconteça.

A cegueira ideológica de Ahmed culmina na tentativa de matar a professora Inès (Myriem Akheddiou). Contudo, a postura da professora e a relação afetiva com Louise (Victoria Bluck) acirram o conflito interno atravessado por Ahmed e despontam como intervenções importantes. Os cineastas, também responsáveis pelo roteiro, evitam um olhar fatalista, conforme se pode notar nos momentos finais. O resultado sensibilizou o júri em Cannes , que concedeu o prêmio de melhor direção .