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Esportes

Enfim, Flamengo e River Plate fazem o jogo que faltou à Libertadores de 1981

Clube argentino saiu da rota dos cariocas ao perder para o Deportivo Cali
Na final da Libertadores de 1981, no Maracanã, Zico marcou o primeiro gol do Flamengo na vitória por 2 a 1 sobre o Cobreloa Foto: Anibal Philot
Na final da Libertadores de 1981, no Maracanã, Zico marcou o primeiro gol do Flamengo na vitória por 2 a 1 sobre o Cobreloa Foto: Anibal Philot

A classificação do Flamengo à final da Libertadores, 38 anos depois de sua única conquista, é uma oportunidade de um gigante brasileiro se reafirmar no cenário continental. E o River Plate é o melhor adversário possível para a final dos sonhos rubro-negros. Atual campeão sul-americano, o time de Marcelo Gallardo é indiscutivelmente a melhor equipe da Argentina.

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Nada melhor para uma decisão do que um rival que a engrandeça, e o Flamengo sabe disso há 38 anos. Em 1981, começou a Libertadores contra Atlético-MG e os paraguaios de Cerro Porteño e Olimpia. Na fase semifinal, foi ao Grupo A contra Deportivo Cali, da Colômbia, e Jorge Wilstermann, da Bolívia.  Nenhum argentino, nenhum uruguaio. A final, duríssima, foi contra o Cobreloa, time chileno de futebol mesquinho e violento.

A ausência dos vizinhos do Rio da Prata, de tão repisada, gerou uma fake news duradoura: a de que a Libertadores de 1981 foi facilitada por não ter participantes argentinos, em razão da Guerra das Malvinas, conflito contra o Reino Unido pelo controle das Ilhas Falklands. Lorota braba: o conflito começaria cinco meses depois da final, em abril de 1982.

Essa fake news era arrojada – dita numa mesa de bar, sem internet disponível nos celulares, se tornava verdade imediata; poucos trazem as datas de conflitos estrangeiros na cabeça. A lorota chegou até mesmo a frequentar a Wikipedia. Como as gerações abaixo dos 40 anos eram muito crianças para situar claramente o início da guerra, muita gente (até dentro da torcida) se deixava convencer de que a Libertadores do Flamengo tinha sido, no mínimo, desfalcada.

A façanha de Willington Ortiz

A verdade é que havia argentinos. De um lado, o Rosario Central; do outro, o River Plate. Ambos começaram a Libertadores no Grupo 1, em que enfrentariam Junior de Barranquilla e Deportivo Cali. E é do Cali que precisamos falar.

Liderado pelo ponta-direita Willington Ortiz, considerado o maior jogador da Colômbia até a chegada da geração de Valderrama, esse time conseguiu derrotar duas vezes um River Plate formado pela base da seleção argentina campeã de 1978: jogavam com a faixa vermelha o goleiro Ubaldo Fillol, os zagueiros Daniel Passarella e Pavoni, o lateral Alberto Tarantini, o meia Óscar Ortiz, e os atacantes René Houseman e Mario Kempes, artilheiro da Copa da Argentina. O técnico era o lendário atacante Ángel Labruna, tido como um dos maiores ídolos do Monumental de Núñez. Se a vitória em Cali já havia sido épica, o triunfo colombiano em Buenos Aires ganhou ares de façanha de um povo.

– Essa foi a maior vitória do futebol colombiano até aquele momento – afirma Gabriel Meluk, editor de Esportes do "El Tiempo", de Bogotá.

O esquadrón do River não foi montado por acaso. Em 1981, a Libertadores era obsessão e dor de cotovelo para o River, já que o arquirrival Boca Juniors conquistara o bi três anos antes. Como outros clubes argentinos já haviam empilhado a prataria (Independiente, Racing, Estudiantes), os millonarios de Núñez precisavam impor sua tradição ao continente.

Bruno Henrique comemora o primeiro gol da vitória do Flamengo sobre o Grêmio Foto: Marcelo Regua / Agência O Globo
Bruno Henrique comemora o primeiro gol da vitória do Flamengo sobre o Grêmio Foto: Marcelo Regua / Agência O Globo

Toda essa ambição foi varrida pelo Deportivo Cali em Buenos Aires. Se Kempes marcou primeiro para o River, os colombianos não esmoreceram e viraram a partida. Capiello converteu um pênalti no primeiro tempo. No segundo, a 16 minutos do fim, desarmou Houseman para lançar Willington Ortiz. O velocista arrancou, deixou Pavoni para trás, driblou Fillol e tocou para o gol: 2 a 1 para os colombianos.

Numa época em que as vitórias valiam dois pontos, o Deportivo ficou um à frente do River Plate, e se credenciou para o triangular semifinal. Mas o gás  terminou cedo. No triangular, acabou derrotado pelo Flamengo: 1 a 0 em Cali, 3 a 0 no Maracanã.

– O duelo com o Flamengo foi seis meses depois das partidas contra o River. Willington tinha acabado de jogar a eliminatória da Copa da Espanha, e o Cali era a base da Colômbia. Além disso, tudo coincidiu com uma queda de produção do time, que perdeu 7 das 10 partidas do Colombiano antes do duelo com o Flamengo – recorda Orlando Ascencio, jornalista do El Tiempo.

No dia 23 de novembro, o estádio Monumental de Lima recebe a partida que o Deportivo Cali adiou. Virgem de Libertadores em 1981, o River luta pelo pentacampeonato – conquistou a taça em 1986, 1996, 2015 e no ano passado. Nada muda o brilho da conquista rubro-negra em 1981. Mas já passa da hora de uma nova alegria.