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Análise: Jorge Jesus transforma Renato Gaúcho em coadjuvante após goleada na Libertadores

Técnico português leva a melhor em campo e na entrevista depois da partida
Jorge Jesus levou o Flamengo à final da Libertadores depois de 38 anos Foto: Alexandre Cassiano / Agência O Globo
Jorge Jesus levou o Flamengo à final da Libertadores depois de 38 anos Foto: Alexandre Cassiano / Agência O Globo

Renato Gaúcho sempre foi personagem principal durante toda a carreira. Como jogador, ficou conhecido pelos gols dentro de campo e pelas polêmicas fora dele. Como técnico, o estilo falastrão se manteve e as taças  ajudaram a aumentar o seu personagem. Mas nesta semifinal de Libertadores, Portaluppi amargou uma posição em que esteve poucas vezes na vida: a de ser um mero coadjuvante. A estrela que o ofuscou foi Jorge Jesus, técnico do Flamengo.

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O telão do Maracanã não mostrou apenas o placar de 5 a 0 à favor do Flamengo, mas também a pior derrota do treinador à frente do Grêmio e o pior revés do clube gaúcho na história do torneio sul-americano. A impiedosa goleada dá fim à discussão sobre quem é a melhor equipe do futebol brasileiro e marcou a superioridade rubro-negra no confronto. Renato, em poucas palavras, reconheceu esse peso.

- Nessas horas têm que falar pouco. Quando se ganha, todo mundo é bom. Quando perde ninguém presta. Foi um resultado surpreendente, mas aconteceu - disse o técnico gremista.

Sem dúvida, o Flamengo era favorito para conquistar a vaga. Era mais time, tem melhores resultados e jogadores em melhor fase, mas o Grêmio passava longe de ser um cachorro morto. Pelo contrário, o bom trabalho do próprio Renato levou merecidamente a equipe gaúcha à semifinal pela terceira vez em três anos - feito que é para poucos. Mas Portaluppi se tornou vítima da estratégia que criou ao tentar desafiar Jesus.

Desde que o duelo entre Flamengo e Grêmio foi desenhado, não faltaram provocações e alfinetadas por parte do gremista. Declarações como "tem 65 anos e nunca ganhou nada" e " se me der R$ 160 milhões eu monto uma seleção" fizeram parte do seu repertório que é uma estratégia conhecida. Mais do que confiança, é uma forma de tirar a pressão dos seus jogadores e manter os holofotes sobre si. O problema é que, quando a artimanha dá errado, Renato se torna um alvo fácil.

E foi assim no Maracanã. não houve disputa. Foi um passeio do Flamengo, apesar do Grêmio ter resistido por 45 minutos. Foi possível segurar as ações rubro-negras no bom primeiro tempo, mas não evitou o atropelamento no segundo. Duas imagens ficarão marcadas: seu rosto focalizado pelas câmeras de TV's após o terceiro gol, marcado por Gabigol de pênalti, e os mais de 69 mil torcedores hostilizando o técnico gremista. Consequências da narrativa que criou.

Por fim, cada vez mais, a sensação é de que, caso títulos se confirmem, o futebol brasileiro será divido em antes e depois de Jorge Jesus em diversas questões que margeiam as quatro linhas. São 18 jogos sem perder (15 vitórias e três empates) e uma superioridade diante outras equipes que poucas vezes se viu no país. Ele sim poderia adotar um discurso provocativo, mas preferiu manter a boa relação com o técnico adversário.

- Não quero ser o dono da verdade. Cada treinador tem a sua opinião. Eu transmiti a minha em função do resultado, de quando o Flamengo estava em primeiro lugar. Não é o fato de termos ganho de 5 a 0 que vou mudar a minha opinião - disse Jesus.

Jesus venceu dentro de campo, à beira do gramado e também à frente dos microfones. Sai da semifinal maior do que entrou.