Economia PIB

PIB do Brasil sobe 1,1% em 2019. Taxa é a menor desde o fim da recessão

No 1º ano do governo Bolsonaro, investimento sobe 2,2%, liderado por construção civil; consumo das famílias desacelera
Números da economia no vermelho no final do ano, período no qual se esperava um maior aquecimento do mercado consumidor, decepcionaram Foto: Agência Brasil
Números da economia no vermelho no final do ano, período no qual se esperava um maior aquecimento do mercado consumidor, decepcionaram Foto: Agência Brasil

RIO — A economia brasileira terminou o ano de 2019 com uma recuperação lenta da atividade econômica. No primeiro ano do governo de Jair Bolsonaro, o Produto Interno Bruto ( PIB ) teve alta de apenas 1,1%, informou o IBGE nesta quarta-feira. É o terceiro ano seguido que o Brasil cresce cerca de 1%.

No ano, o PIB brasileiro totalizou R$ 7,3 trilhões . Já o PIB per capita ficou estagnado em R$ 34.533, com alta de só 0,3%.

PIB : Consumo das famílias tem pior desempenho desde 2016

Trata-se do crescimento mais baixo do que o registrado nos dois anos anteriores, quando a economia brasileira cresceu 1,3% em 2017 e 2018. É, portanto, a menor taxa de expansão desde o fim da última recessão brasileira. Em 2015 e 2016, o PIB recuou 3,5% e 3,3%, respectivamente.

Confira a evolução do PIB do Brasil entre 2000 e 2019

. Foto: Editoria de Arte
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O resultado de 2019 veio dentro das expectativas mais recentes dos analistas, que previam uma alta de 1,1%.

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No início do ano passado, porém, havia a previsão de crescimento de 2%, com a aprovação da reforma da Previdência - o que acabou ocorrendo em outubro - e outras medidas de estímulo econômico.

O movimento, no entanto, se frustrou com os efeitos negativos da crise da Argentina, a queda na barragem da Vale, em Brumadinho (MG) e da baixa aceleração do consumo das famílias.

No último trimestre do ano, quando tradicionalmente o consumo se aquece, a economia brasileira cresceu 0,5%, na comparação com os três meses encerrados em setembro.

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No ano, o consumo das famílias, que representa 65% do PIB nacional, desacelerou para 1,8% em 2019, na comparação com o ano anterior. Foi o pior desempenho desde 2016. Em 2018, o indicador havia crescido 2,1% e, em 2017, o avanço foi de 2%. Apesar disso, o grupo foi o pilar do crescimento brasileiro em 2019.

— Essa diferença no serviços (que contribui para o consumo das famílias) explica essa diferença do ano de 2018 e de 2019 (de crescimento de 1,3% para 1,1%). E a indústria ficou com o mesmo crescimento do ano, mas por dentro a composição mudou muito — explica Rebeca Palis, coordenadora do IBGE.

Com o crescimento pelo terceiro ano, a economia brasileira voltou ao mesmo patamar do primeiro trimestre de 2013, período antes da recessão econômica. No entanto, ainda está 3,1% abaixo do melhor momento da economia, no primeiro trimestre de 2014.

Exportações caem 2,5%

Do lado da demanda, o consumo das famílias (que é um dos pilares da economia brasileira, representando 65% do PIB) desacelerou para 1,8% em 2019, na comparação com o ano anterior.

Foi o pior desempenho desde 2016. Em 2018, o indicador havia crescido 2,1% e, em 2017, o avanço foi de 2%.

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Os investimentos, medidos pela Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) também desaceleraram. Em 2019, a alta foi de 2,2%, contra o avanço de 3,9% dois anos atrás.

Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, pondera que a desaceleração nos investimentos (FBCF) em 2019 deve ser avaliada com cautela, uma vez que no ano anterior o indicador ficou um pouco inflado por conta de mudanças no Repetro (regime fiscal aduaneiro do setor de óleo e gás).

— Os investimentos, em 2018, cresceram mais por conta do efeito Repetro. A nacionalização das plataformas, e sua consequente contagem no PIB, aconteceram de forma mais vigorosa a partir do terceiro trimestre de 2018. Esse é um fator que explica grande parte dessa desaceleração numérica — disse a coordenadora do IBGE.

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Dentro dos investimentos, no ano passado, a maior contribuição ficou na conta do setor de construção. Sua participação respondeu por 44% do total do avanço.

Nas contas do setor externo, as exportações caíram 2,5% em 2019, ano marcado pela guerra comercial entre China e Estados Unidos e a crise econômica da Argentina, principal parceiro econômico do Brasil na América Latina.

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Os destaques negativos foram a indústria automotiva (que tinha na Argentina o principal canal de escoamento da produção), minerais metálicos e máquinas e equipamentos.

Do outro lado, as importações subiram 1,1% em 2019 na comparação com 2018. Os destaques ficaram por conta de materiais elétricos, produtos químicos  e metalurgia.

Retração na indústria extrativa

Pelo lado da oferta, o PIB foi influenciado pelo desempenho positivo do setor de serviços, responsável por 74% do PIB brasileiro. No ano, o grupo avançou 1,3%, impulsionado pelos efeitos da liberação dos saques do FGTS em grupos como informação e comunicação (4,1%), atividades imobiliárias (2,3%) e o comércio atacadista e varejista (1,8%).

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Já a indústria avançou 0,5% no ano, impulsionado pelo desempenho da construção civil , que começou a recuperar os dados positivos em 2019. O setor cresceu 1,6% em 2019, puxado principalmente pelo setor de edificações imobiliárias.

A indústria de transformação (0,1%) e extrativa (-1,1%)  tiveram resultado negativo no ano, influenciado pelos efeitos da queda da barragem da Vale, em Brumadinho (MG) e da crise econômica da Argentina, principal parceiro externo comercial do país.

Apesar do crescimento em 2019 ter sido o menor desde o início da recessão, os dados divulgados nesta quarta ainda podem sofrer algum tipo de revisão por parte do IBGE.

Veja a evolução do PIB trimestral

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Normalmente, o instituto realiza revisões do indicador com a incorporação de novos dados no terceiro trimestre do ano seguinte da referência divulgada. Isso aconteceu nos últimos dois anos, quando o PIB brasileiro também atingiu 1,1%, mas foram revisados para 1,3%, em seguida.

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Efeito do coronavírus

Para este ano, o mercado já começa a reagir com pessimismo aos possíveis efeitos da epidemia do coronavírus na economia brasileira. Nas últimas quatro semanas, analistas reduziram três vezes a previsão de crescimento doméstico, hoje em 2,17%, segundo o Boletim Focus, do Banco Central.

A expectativa do mercado é que o crescimento fique abaixo de 2%, deixando o país cada vez mais próximo do 1% pelo quarto ano consecutivo.

Na conta da expectativa mais pessimista estão a menor atividade na China, epicentro do surto, o que deve afetar as compras chinesas de matérias-primas de países fortes no agronegócio, como o Brasil.

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Além disso, a paralisação de fábricas chinesas devido à epidemia tem levado a problemas de abastecimento de insumos no Brasil, o que pode comprometer o desempenho da já combalida indústria nacional em 2020.