Economia

'Não dá mais para cortar árvore', diz Arminio Fraga sobre desmatamento da Amazônia

Para ex-presidente do BC, 'está faltando estratégia, e é fundamental não abrir mão de reflorestar'
Arminio Fraga: "precisamos urgentemente reverter essa tendência (de desmatamento)".
Foto: Adriana Lorete / Agência O Globo
Arminio Fraga: "precisamos urgentemente reverter essa tendência (de desmatamento)". Foto: Adriana Lorete / Agência O Globo

RIO - O ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga disse nesta quarta-feira que o país não pode mais conviver e ser conivente com o desmatamento da Amazônia.

Durante apresentação no Conselho de Líderes do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável, composto por CEOs de 60 dos maiores grupos empresariais do país, ele disse que o país necessita reverter a tendência de desmatamento na região, crescente nos últimos anos.

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— Não dá mais para cortar árvore — afirmou Fraga — A Amazônia está mal, precisamos urgentemente reverter essa tendência (de desmatamento).

Fraga participou do evento ao lado de Pedro Malan, ex-presidente do Banco Central e da Fazenda. Os dois fazem parte do grupo de 17 ex-ministros da Fazenda e ex-presidentes do BC signatários da carta defendendo a uma retomada da economia brasileira atenta às mudanças climáticas e o fim do desmatamento na Amazônia e no Cerrado.

Para os dois economistas, é preciso pensar a exploração dos recursos naturais da Amazônia de forma sustentável, pensando nos desafios do desenvolvimento humano na região. No entanto, ambos criticaram a falta de estratégia do governo para isso.

Recorde histórico

Em junho, o desmatamento na Amazônia quebrou mais um recorde na série histórica do mês e chegou a 1.034,4 km² devastados, segundo números do sistema Deter do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O índice é 10,6% maior do que o registrado no mesmo período, em 2019.

Área desmatada em meio à floresta amazônica. Foto: Carl de Souza / AFP
Área desmatada em meio à floresta amazônica. Foto: Carl de Souza / AFP

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Segundo Fraga, o país está próximo de uma situação de alerta na região, sendo necessário pensar muito além do fim do desmatamento ilegal.

— Está faltando estratégia, é fundamental não abrir mão de reflorestar. As melhores análises científicas dizem que estamos perto de um ponto em que o solo não volta. Do ponto de vista de gestão de risco, estamos mal. Não é suficiente acabar com o (desmatamento) ilegal, é preciso reflorestar — ressalta Fraga.

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Para o economista, no entanto, o governo adota uma postura “obscurantista” e pouco preocupada com as conclusões obtidas por meio de evidências.

— É um governo refratário das admissões da ciência, obscurantista, isso se mostra na pandemia, onde chegamos atrasados.

Na segunda, o ministro da Economia, Paulo Guedes, saiu em defesa da política ambiental do governo ao afirmar que o Brasil "alimenta o mundo, preservando o meio ambiente". Guedes admitiu, no entanto, a possibilidade de corrigir erros neste segmento.

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Investidores internacionais e nacionais têm mostrado insatisfações diante dos alto níveis de desmatamento e queimadas na Amazônia, o que gera preocupação na equipe econômica de uma possível fuga de recursos causada pela má avaliação de gestores de fundos estrangeiros e nacionais sobre a política ambiental brasileira.

Na avaliação de Malan, o monitoramento do desmatamento feito por órgãos da União, como o Inpe, e cobrança das empresas pelo fim do desmatamento da região é essencial para que o governo se comprometa efetivamente com a pauta.

— Monitorar esse avanço agora é essencial, vejo com satisfação que é um número grande de empresas que incorporam isso, tanto internacional como nacional — ressaltou.

Em documento publicado na terça, a Secretaria de Política Econômica (SPE) considerou que o recorde de desmatamento em junho pode ter sido uma "variação conjuntural" e não deve ser considerada por investidores para julgar a política ambiental brasileira.