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Economia

Teles correm para oferecer o ‘quase 5G’

Sem leilão, operadoras investem em serviços com internet mais rápida, equivalente a dez vezes a velocidade atual
Futuro - Cabos de fibra óptica: expectativa do setor é que país chegue a 21,2 milhões de usuários de 5G em 2025 Foto: Chris Ratcliffe / Bloomberg
Futuro - Cabos de fibra óptica: expectativa do setor é que país chegue a 21,2 milhões de usuários de 5G em 2025 Foto: Chris Ratcliffe / Bloomberg

RIO — Mesmo sem data para o governo realizar o leilão do 5G no Brasil, operadoras de telefonia celular iniciaram uma corrida para levar ao consumidor internet mais rápida. Para elevar as receitas em um ano mais fraco em razão da pandemia do novo coronavírus, a solução foi usar o espaço disponível, que sobrou, nas frequências de 2G, 3G e 4G e usar uma tecnologia chamada DSS.

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Ela permite elevar a velocidade a 400 mega por segundo (Mb/s), um patamar dez vezes superior ao atual, mas ainda longe do potencial real do 5G, que seria equivalente a 20 vezes o que o brasileiro dispõe hoje com a rede 4G. Na prática, é um 5G no meio do caminho, um “quase 5G”.

Os serviços desse 5G abaixo do potencial começam a ser comercializados a partir deste mês ainda de forma tímida, em alguns bairros nobres das maiores capitais do país. O objetivo é que os aparelhos, acima de R$ 5 mil, e os planos, sejam a principal estratégia para as vendas de Black Friday, no fim de novembro. A expectativa é que o país alcance até um milhão de consumidores.

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Áreas nobres de Rio e SP

As empresas se referem ao produto como a possibilidade de ofertar ao cliente “uma experiência 5G”. Na semana passada, Claro, Ericsson, Qualcomm e Motorola, anunciaram o lançamento de rede 5G em São Paulo e no Rio, em bairros como Ipanema, Leblon e Lagoa.

Segundo Paulo Cesar Teixeira, presidente da unidade de Consumo e PME da Claro, as primeiras regiões a receberem a nova cobertura levaram em conta fatores como demanda atual de tráfego, crescimento ao longo do último ano e infraestrutura de rádios já modernizada.

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— Clientes que adquirirem smartphones aptos já poderão ter as primeiras experiências com a tecnologia 5G, com conexões mais velozes que o 4G convencional — diz Paulo Cesar.

Fiore Mangone, diretor de Desenvolvimento de Negócios da Qualcomm, que fabrica os processadores para os celulares, diz que a tecnologia também estará disponível em notebooks e futuramente em outros dispositivos.

— Já são cem redes 5G em 37 países. Já desenvolvemos processadores para 375 dispositivos para 30 marcas. O DSS é essencial para uma ampla cobertura 5G e para promover uma transição mais rápida na implantação comercial de 5G — destacou Blasco.

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A Samsung lançou no início do ano passado aparelhos 5G no exterior. A companhia mantém conversa com operadoras e já está desenvolvendo soluções com diversas indústrias, diz Mario Laffitte, vice-presidente de Relações Institucionais da Samsung na América Latina. A companhia conta com 2.600 patentes de quinta geração.

— Já trabalhamos no 5G há dois anos e já estamos desenvolvendo o protocolo para o 6G. A quinta geração terá uma implatação rápida na América Latina. Estamos prontos para trazer aparelhos — afirmou ele, sem revelar planos.

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Primeiro passo

Sem leilão de 5G, teles investem em serviços com internet mais rápida Foto: Justin Tallis / AFP
Sem leilão de 5G, teles investem em serviços com internet mais rápida Foto: Justin Tallis / AFP

A Vivo, por sua vez, anunciou que vai lançar o 5G no fim deste mês em oito cidades do país, como São Paulo, Salvador, Brasília, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Goiânia Curitiba e Belo Horizonte. Márcio Fabbris, vice-presidente de Marketing e Vendas, disse que o 5G antes do leilão vai acelerar a conectividade. Ele cita o caso do 4G, que ainda está em expansão no país.

— Esse é o primeiro passo para o 5G poderoso que vamos ter lá na frente. Vamos começar a ver smartphones com preços menores e competição. Vai ser uma aposta para as vendas do Black Friday em novembro.

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Já a TIM está usando o 5G para lançar banda larga residencial em três cidades localizadas em Minas Gerais, Matro Grosso e Rio Grande do Sul. Leonardo Capdevill, diretor de Tecnologia da empresa, afirma que a estratégia é buscar cidades de cem mil habitantes.

— Levar essa conexão aos smartphones também está nos nossos planos. Vamos entender a experiência nessas cidades para fazer a ampliação. O DSS será o começo da experiência — diz ele.

Na GSMA, associação internacional que reúne as empresas mundo afora, a expectativa é que o Brasil chegue em 2025 com cerca de 21,2 milhões de usuário 5G.

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Alejandro Adamowicz, diretor de Tecnologia e Estratégia, lembrou que o DDS usa equipamentos e softwares 5G, embora use qualquer tipo de frequência. Para ele, essa solução será usada apenas em alguns locais, mas não no país todo.

— É preciso mais frequência para levar o 5G ao país, pois caso contrário o 4G e 5G vão competir entre si. Além disso, uma frequência específica é necessária para permitir todo o potencial da quinta geração.

O lançamento antecipado da rede 5G, no entanto, aumenta a lista de polêmicas em torno da nova tecnologia. De acordo com fontes do governo, a antecipação do serviço pelas teles tende a reduzir o interesse pela compra de frequências. Oficialmente, a Anatel diz que a informação não procede.

Polêmica da Huawei

Na última terça-feira, a Huawei foi banida de fornecer equipamentos 5G no Reino Unido. A decisão foi vista com preocupação por companhias no Brasil. A gigante chinesa tem hoje uma participação acima de 50% no segmento de banda larga móvel. Das iniciativas de 5G em curso hoje no Brasil, Vivo e TIM têm como fornecedor a Huawei, exceto a Claro que optou pela Ericsson.

A Huawei diz que a instalação de 5G ganha velocidade porque os equipamentos de 4G disponíveis hoje já são compatíveis com a nova geração. É necessário apenas a atualização de um software, explica Marcelo Motta, Diretor de Cibersegurança e Soluções.

Com 2.570 patentes no mundo só de 5G, a empresa refuta as acusações do governo dos EUA. Motta afirma que até agora nada foi provado e não há registros de operadoras no mundo questionando a segurança da companhia.

—Já testamos 5G com todas as operadoras aqui. Se as acusações de espionagem fossem verdade, as operadoras não estariam conosco. A maior concorrência permite preços menores.

Solução no meio do caminho

Leilão da rede 5G ficará para 2021

  • O leilão de 5G no Brasil vai ficar para o primeiro semestre de 2021. A expectativa era que o certame ocorresse ainda esse ano. Pesam a crise do coronavírus e as incertezas de quem vai pagar a conta para impedir a interferência do 5G com antenas parabólicas.
  • A pressão dos EUA para que as empresas aqui sejam proibidas de contratar a Huawei também dificulta. Nos bastidores, as teles indicaram o interesse em continuar com a chinesa.

Velocidade ainda longe do ‘5G real’

  • A tecnologia DSS é nova e permite que as operadoras de telecomunicações ofereçam internet móvel com uma velocidade até dez vezes superior ao atual 4G. Porém, ainda longe do que o 5G real vai possibilitar, com transmissão de dados até 20 vezes maior, carregando, por exemplo, vídeos de forma instantânea.
  • Esse padrão já vem sendo usados por empresas de telecomunicações nos Estados Unidos e na Europa.

Gambiarra com a rede 2G, 3G e 4G

  • Para permitir mais velocidade de internet, a tecnologia DSS utiliza toda as frequências em uso pelas operadoras. Segundo especialistas, a DSS permite direcionar que a demanda seja atendida pelos espaços vazios das redes de telecomunicações. Assim, a qualidade da internet acaba sendo maior.
  • Atualmente, todas as empresa fazem uma combinação de suas frequências de 2G, 3G e 4G para um uso mais eficiente em voz e internet.

Rentabilidade com celular mais caro

  • A chegada antecipada do 5G no Brasil também será uma oportunidade para operadoras e fabricantes de aparelhos. Por enquanto só a Motorola lançou modelo capaz de operar em 5G DSS, com preço a R$ 5,5 mil. Fontes nas teles dizem que a Samsung prepara dois aparelhos já para o próximo mês com a nova tecnologia.
  • A estratégia é iniciar agora a disputa por vendas mais rentáveis para a Black Friday, cujas ações começam em outubro.