BRASÍLIA — A
Polícia Federal
(PF)
prendeu nesta terça-feira quatro pessoas acusadas de crimes cibernéticos. Há suspeita de que os detidos tenham atuado na invasão da conta do ministro da Justiça,
Sergio
Moro
, no aplicativo Telegram. Os presos — três homens e uma mulher — foram transferidos para Brasília,
conforme adiantou a coluna da jornalista Bela Megale.
Três dos quatro presos já foram identificados: Gustavo Henrique Elias Santos, de 28 anos, que trabalha como DJ e já respondeu por porte ilegal de arma; sua esposa, Suelem; e Walter Delgatti Neto.
Na chamada
Operação Spoofing,
foram cumpridas onze ordens judiciais, sendo sete mandados de busca e apreensão e quatro de prisão temporária nas cidades de São Paulo, Araraquara e Ribeirão Preto. Os acusados já estão sendo interrogados em Brasília.
As prisões ocorreram durante o curso das investigações sobre o ataque aos dados de Moro. A partir de agora, a PF tentará descobrir se os presos têm alguma relação com o vazamento de conversas com o procurador Deltan Dallagnol, chefe da força-tarefa da Operação Lava-Jato em Curitiba. A busca por provas nesta terça-feira
mirava as invasões em contas de aplicativo de outras quatro autoridades federais.
O inquérito está sendo conduzido pela Diretoria de Inteligência.
Duas turmas de agentes e delegados se dedicam ao caso, em quatro cidades. A Procuradoria-Geral da República também abriu um procedimento para acompanhar o trabalho da polícia. A apuração desse tipo de crime é tida como complexa, e o prazo para conclusão das investigações será longo, prevê a cúpula da PF.
De acordo com a PF, o nome "Spoofing" faz referência a "um tipo de falsificação tecnológica que procura enganar uma rede ou uma pessoa fazendo-a acreditar que a fonte de uma informação é confiável quando, na realidade, não é".
Em junho,
reportagem do GLOBO
mostrou que a PF e o Ministério Público Federal (MPF) tinham indícios de que o ataque hacker que expôs
mensagens privadas de Moro e de procuradores
foi muito bem planejado e teve alcance bem mais amplo do que se sabia até aquele momento. Entre os alvos dos criminosos, estiveram integrantes das forças-tarefas da Operação Lava-Jato de ao menos três estados (Rio, Paraná e Distrito Federal), delegados federais de São Paulo, magistrados do Rio e de Curitiba.
No começo de junho, a assessoria do ministro da Justiça contou que o
hacker havia invadido o aparelho
. O ministro atendeu uma chamada do próprio número. O invasor acessou seu Telegram e
se passou por ele
. O ministro da Justiça trocou de linha, e a Polícia Federal abriu inquérito para apurar o caso.
Raquel Dodge
A procuradora-geral da República,
Raquel Dodge
, está na lista de autoridades que foram
alvos de ataque
do suposto hacker Walter Delgatti Neto, preso desde terça-feira. Em maio, a procuradora recebeu várias ligações do número dela, achou estranho e não atendeu os telefonemas. Mais tarde, foi informada pela Secretaria de Tecnologia da Procuradoria-Geral que um hacker tentou, sem sucesso, acessar o celular dela.
Ministros do STF
Nesta quinta-feira, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, foi avisado pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, de que ministros da Corte também foram alvos de ataques hackers.
Davi Alcolumbre
O presidente do Senado,
Davi Alcolumbre
estava com o celular fora de área quando o ministro Moro ligou para informá-lo, mas foi avisado de que assessores do Ministério da Justiça ligaram para sua equipe e também na Presidência do Senado.
Rodrigo Maia
No caso de Rodrigo Maia, embora o celular tenha sido invadido, não há indícios de captura de dados, segundo investigadores. No fim da tarde, o presidente da Câmara,
Rodrigo Maia
, divulgou nota dizendo que não usa o aplicativo Telegram e que teve conhecimento do suposto hackeamento pela imprensa.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, teve o celular hackeado na noite de 22 de julho, segundo a assessoria do Ministério da Economia. À noite, o telefone do ministro entrou para o aplicativo Telegram. Guedes disse ao colunista Lauro Jardim que foi alvo de
"bandidos"
.
25 procuradores do MPF
A Procuradoria-Geral da República (
PGR
) afirmou na noite desta quinta-feira que 25 membros do
Ministério Público Federal
(MPF) de todo o país foram alvos de ataques hackers —
inclusive a chefe dos procuradores, Raquel Dodge
. A apuração interna do órgão constatou que menos da metade dos celulares foram efetivamente comprometidos.
Presidente do STJ, João Otávio de Noronha
O presidente do Superior Tribunal de Justiça,
João Otávio de Noronha
, confirmou nesta quinta-feira que recebeu um telefonema do ministro da Justiça,
Sergio Moro,
para lhe informar que seu nome estava na lista das
autoridades hackeadas
pelo grupo preso na Operação Spoofing, da Polícia Federal.
Joice Hasselmann
Líder do governo no Congresso, a deputada do PSL relatou pelas redes sociais que
teve seu telefone celular clonado
em 21 de julho. Ela contou ter recebido ligações do seu próprio número e pediu prisão para os invasores. Segundo ela, mensagens foram enviadas a partir de sua conta no Telegram ao colunista do GLOBO, Lauro Jardim.
Deltan Dallagnol
O coordenador da força-tarefa da Lava-Jato teve o celular e a conta no Telegram invadidos. Segundo a coluna de Lauro Jardim, o procurador contou a amigos que hacker ficou pelo menos dois dias
com livre acesso à conta
no aplicativo e baixou arquivos. Dallagnol disse a pessoas de sua confiança que identificou uma tentativa de invasão a seu e-mail.
A juíza, que substituiu Sergio Moro (incluindo na primeira instância da Lava-Jato) por um tempo após ele deixar 13ª Vara Federal de Curitiba,
foi alvo
de hackers. A Justiça Federal informou que o fato foi "comunicado à Polícia Federal" e que a juíza não verificou exposição de "informações pessoais sensíveis".
Rodrigo Janot
No começo de junho, um hacker tentou seguidas vezes invadir o celular do ex-procurador-geral. O invasor não teve sucesso porque Janot se recusou a atender
as insistentes ligações
e a acessar os códigos. No final de abril, um hacker invadiu o celular de Janot e tentou acessar redes e até contas bancárias dele por mais de dez horas.
Ex-auxiliares de Janot
Dois procuradores, ambos ex-auxiliares de Rodrigo Janot, relataram ao GLOBO também terem sido
vítimas de ataques
de hackers, mas pediram para não terem os nomes publicados. Em maio, um hacker tentou invadir o celular de Ronaldo Queiroz, ex-chefe de gabinete substituto do ex-procurador-geral.
Abel Gomes
O Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2) informou que o desembargador federal, relator dos processos da Lava-Jato do Rio em 2ª instância (Calicute, Cadeia Velha, Furna da Onça),
sofreu uma tentativa de invasão
a seu celular e à sua conta no Telegram. Assim que percebeu o ato, ele acionou a Polícia Federal.
Juízes do Rio e de Curitiba
De acordo com o TRF-2, um ataque hacker também foi dirigido também ao juiz federal Flávio de Oliveira Lucas, que atuou no gabinete do desembargador Abel Gomes e, em período de férias, o substituía. Flávio Lucas é hoje titular da 18ª Vara Federal cível do Rio de Janeiro. O GLOBO informou em junho que juízes do Rio e de Curitiba
foram alvos
.
Ataques de hackers se estenderam a integrantes das forças-tarefas da Operação Lava-Jato de ao menos três estados (Rio, Paraná e Distrito Federal). Entre os alvos, estiveram os procuradores Januário Paludo, Ronaldo Pinheiro de Queiroz, Danilo Dias e Andrey Borges de Mendonça.
Eduardo El Hage
Outro alvo dos ataques, o coordenador da força-tarefa no Rio, Eduardo El Hage, reagiu rapidamente à tentativa de invasão de suas comunicações e impediu que seu celular fosse utilizado pelo invasor.
Paulo Galvão
Em Curitiba, o procurador Paulo Galvão demorou a perceber que estava
sendo vítima de um golpe
. O procurador teria recebido uma ligação do meio da noite e, sem se atentar para o risco, concordou com as sugestões do hacker. Quando se deu conta, o invasor já teria acessado seu celular. Não se sabe se o hacker teve ou não tempo de copiar os dados.
Força-tarefa de São Paulo
A força-tarefa da Lava-Jato em São Paulo confirmou que dois procuradores sofreram tentativa de invasão de seus celulares em maio, mas o ataque foi percebido e bloqueado. Na época, os dois já não integravam a força-tarefa. A ex-coordenadora Thaméa Danelon também foi alvo: recebeu mensagens de que uma nova sessão do Telegram estava sendo aberta. "Derrubei a sessão quatro vezes", disse Thaméa.
Delegados federais de São Paulo
Reportagem de junho do GLOBO mostrou que o ataque hacker foi mais amplo do que se imaginava e
atingiu o "coração" da Lava-Jato
. Delegados federais de São Paulo também sofreram tentativas de invasão de suas comunicações.
Um hacker entrou em contato com José Robalinho, ex-presidente da Associação Nacional de Procuradores, se fazendo passar pelo procurador militar Marcelo Weitzel, que teve seu celular invadido, como
revelou a revista Época
.
Jornalista do GLOBO
O jornalista do GLOBO Gabriel Mascarenhas, repórter da coluna de Lauro Jardim,
teve sua conta no Telegram invadida
por um hacker em 11 de maio. O hacker, se passando pelo jornalista, enviou mensagens intimidadoras ao procurador regional da República Danilo Pinheiro Dias. O GLOBO comunicou o ocorrido à Procuradoria-Geral da República (PGR).
Depois do início da investigação, a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) e
o ministro da Economia, Paulo Guedes,
também afirmaram que suas contas no Telegram acessadas.