Por O Dia
Rio - Falta de medicamentos. Equipamentos quebrados. Redução de equipes. Esse é o retrato de diversas unidades de Clínicas da Família no município do Rio. A precarização das estruturas, entretanto, não é recente, e o movimento sinaliza um desmonte da atenção primária. Dados dos Painéis de Indicadores de Atenção Primária à Saúde, do Ministério da Saúde, apontam que, entre abril de 2017 e abril deste ano, a cobertura de Equipes de Saúde da Família caiu de 62,2% para 41% no município.
Para Carlos Vasconcellos, membro do sindicato Nenhum Serviço de Saúde a Menos, a diminuição da cobertura se dá pela redução de equipes de Saúde da Família no município. O médico informa que a quantidade caiu de cerca de 1.200, em 2017, para 724, em julho deste ano, segundo Dados do Data.Rio, da prefeitura do Rio. Cada equipe deve ser composta, ao menos, por agente comunitário de saúde, enfermeiro, médico e técnico em enfermagem para atender cerca de 4.000 pessoas. Com a redução, entretanto, a responsabilidade recai nos funcionários.
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"Com a diminuição da cobertura, muitas pessoas deixam de ter atendimento e os profissionais ficam sobrecarregados porque tem que fazer o trabalho que, antes, outras equipes desempenhavam, e a qualidade do atendimento cai. Por exemplo, para uma pessoa que tem pressão alta, é recomendado que tenha duas consultas por ano mas, agora, é impossível manter essa média porque os pacientes não conseguem agendar", aponta Carlos.
Segundo o médico, sem a prestação de serviços educativos e preventivos, papel das Clínicas da Família, operam como Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), e as mudanças estruturais são colocadas em segundo plano. Mas nem a assistência emergencial pode ser feita corretamente.
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Funcionários da Clínica Jeremias Moraes da Silva, no Complexo da Maré, ainda relatam falta de medicação, como losartana, anti-alérgicos e dipirona. "Na Jeremias, vemos todos os dias filas enormes para pegar remédios, e muitos idosos voltam para casa de mãos abanando porque não tem a medicação", lamenta uma funcionária da unidade.
Os mesmos medicamentos estão em falta na Clínica Souza Marques, no Campinho, e no CMS Flávio Couto. Além da falta de medicamentos, outro grande problema enfrentado é o furto de equipamentos devido à ausência de guardas noturnos por falta de orçamento, como nas unidades Deputado Pedro Fernandes, em Irajá, e na Adolfo Ferreira de Carvalho, em Barros Filho.
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Segundo ela, a sala de espera da Jeremias está com ventiladores e câmara utilizada para o armazenamento de vacinas quebrados há meses, e não há equipamentos de raio-x e ultrassom mas, mesmo com a notificação à Secretaria Municipal de Saúde, não foi enviada equipe de reparo. Na unidade da Maré, apenas cinco das oito equipes de Saúde da Família têm médicos e não há pediatras no quadro de funcionários. Diante da falta dos profissionais, os enfermeiros que desempenham o papel da medicina. 
A Secretaria Municipal de Saúde informa que há, atualmente, 1.080 equipes de Saúde da Família no município, mas os dados ainda não foram atualizadas na plataforma federal. Eles afirmam, ainda, que a Clínica Jeremias Moraes da Silva opera com médicos da família e generalistas, que inclui acompanhamento pediátrico. A SMS também nega que a unidade seja abastecida com pipas d'água, e afirma que a água vem normalmente da Cedae, e que há um planejamento com a RioUrbe para a instalação de energia na unidade. Sobre os equipamentos quebrados, comenta que, quando há necessidade de reparo, equipes são contratadas e enviadas às unidades. 
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A SMS afirma que a rescisão de contratos de guardas noturnos nas unidades Deputado Pedro Figueiredo e Adolfo Ferreira de Carvalho ocorreu ainda na gestão passada, com a VivaRio, bem como os furtos. Segundo a pasta, desde que a RioSaúde assumiu a gestão, equipamentos emergenciais estão sendo repostos. A SMS informa que o estoque dos medicamentos devia ser normalizada até a última sexta-feira, dia 17, e a entrega demorou devido à dificuldade imposta por fornecedores para que houvesse reajuste de preço.
 
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Mais um peso para funcionários
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Além do desgaste físico de desempenhar o papel de equipes faltantes, os profissionais de unidades geridas pela RioSaúde enfrentam outra dificuldade: pagamentos atrasados. "Nós, como Saúde da Família, precisamos ser valorizados, e sofremos massacre em cima de massacre. O salário é ridículo, levando em conta que, quando não há médicos na unidade, é o enfermeiro que segura a barra", reclama o funcionário Flávio Couto. 
Funcionários relatam atraso no pagamento de salários e benefícios desde o começo da gestão da RioSaúde, em fevereiro. Além disso, afirmam que houve redução salarial de enfermeiros e de gerentes que estariam recebendo o equivalente a um enfermeiro de ponta de 2012.  
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A RioSaúde informa que paga os salários no quinto dia útil, como prevê a legislação, mas reconhece que houve dificuldade na aquisição de vale-transporte devido à 'alta demanda', mas a situação está sendo regularizada e garante que haverá pagamento retroativo do benefício. Segundo a RioSaúde, os funcionários têm ciência do salário ao ingressarem no processo seletivo.