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Cúpula em Paris levanta verbas contra mudanças climáticas

Presidente francês Emmanuel Macron reúne líderes mundiais e isola Donald Trump
Macron: presidente francês quer se firmar como nova liderança na luta contra as mudanças climáticas Foto: Etienne Laurent / REUTERS
Macron: presidente francês quer se firmar como nova liderança na luta contra as mudanças climáticas Foto: Etienne Laurent / REUTERS

RIO — No segundo aniversário do Acordo de Paris, líderes mundiais, investidores, empresários e representantes de várias instituições prometeram levar dinheiro à mesa para ações de combate às mudanças climáticas. Entre os anúncios feitos na Conferência Um Planeta , realizada ontem na capital francesa, estão o corte de financiamento a combustíveis fósseis e a liberação de recursos para projetos de adaptação em países atingidos pelo aumento do nível do mar. Anfitrião do encontro, idealizado em julho, o presidente francês Emmanuel Macron não convidou o americano, Donald Trump , que havia divulgado no mês anterior a retirada dos Estados Unidos do combate global à emissão de gases de efeito estufa.

Houve promessas de recursos de todos os lados. A União Europeia informou que destinará US$ 10,5 bilhões para auxílio aos países em desenvolvimento contra as mudanças climáticas. O bilionário Bill Gates prometeu US$ 300 milhões para que agricultores das nações mais pobres do mundo consigam se adaptar ao aumento da temperatura global. Mais de 200 empresas indicaram que relatarão com mais transparência a forma como seus negócios podem influenciar o meio ambiente. E o Banco Mundial não financiará, a partir de 2019, projetos envolvendo petróleo e gás.

FRANCÊS ASSUME LIDERANÇA

Secretário executivo do Observatório do Clima, Carlos Rittl avalia que Macron tenta impedir que o veto de Trump ao Acordo de Paris emudeça o debate sobre as mudanças climáticas.

— Houve uma série de anúncios complementares, inclusive sobre financiamento, uma questão que sempre aparece como um gargalo nas conferências climáticas — ressalta. — A manutenção deste tema nas discussões de chefes de Estado é muito significativa.

André Nahur, coordenador do Programa de Mudanças Climáticas e Energia do WWF-Brasil, considera que a principal missão da cúpula de Paris foi reforçar a intenção de retirar os poluentes da economia mundial:

— É uma forma de mostrar que o Acordo de Paris não deve vigorar apenas no papel. Trata-se de uma mensagem importante neste momento, considerando que o ano foi marcado por tantos eventos climáticos extremos e que, segundo um relatório do Projeto Global Carbon, as emissões mundiais devem aumentar 2% em relação a 2016.

O encontro francês não tem status de conferência da ONU, como a realizada no mês passado em Bonn, na Alemanha. Ainda assim, segundo Rittl, a intenção do evento organizado sediado por Macron não era substituir ou ofuscar a agenda das negociações internacionais, e sim levá-la ao “mundo real das economias”:

— A ação climática não é boa apenas para o planeta, mas também para o mundo dos negócios.

Macron tira um selfie com Arnold Schwarzenegger: ator e ex-governador americano disse que EUA continuam participando do Acordo de Paris Foto: Thibault Camus / AP
Macron tira um selfie com Arnold Schwarzenegger: ator e ex-governador americano disse que EUA continuam participando do Acordo de Paris Foto: Thibault Camus / AP

A conferência também lustra a imagem do presidente francês, que tenta assumir o protagonismo no combate às mudanças climáticas. Na véspera da cúpula, Macron anunciou a concessão de bolsas para pesquisadores baseados nos EUA, o que foi considerado pela imprensa americana como um “golpe” contra Trump, que restringiu o financiamento a estudos no setor.

Entre os 13 vencedores americanos do concurso está Louis Derry, professor de Ciências Atmosféricas da Universidade Cornell. Em entrevista ao “Washington Post”, o pesquisador declarou que a “chance de trabalhar em questões empolgantes com colegas franceses e não ser tão dependente das coisas malucas que estão acontecendo no Congresso e no atual governo é honestamente bem atraente. Mas pode ser embaraçoso tentar explicar (na França) o que está acontecendo em casa nesse momento”.

Vice-presidente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), Thelma Krug revela que a França assumiu o financiamento de relatórios especiais elaborados pelo órgão, que sobrevive a partir de contribuições voluntárias feitas pelas nações. O governo americano cobria cerca de 45% das despesas, o equivalente a US$ 3 milhões anuais. Em 2017, durante o mandato de Trump, o IPCC não recebeu sequer um dólar.

— A liderança americana nas negociações climáticas está se diluindo e Macron quer preencher este espaço nos fóruns internacionais — avalia Krug. — O fundo criado pelas nações desenvolvidas para atender às demandas das nações em desenvolvimento não é suficiente. Por isso, precisamos atrair o setor privado e fazer parcerias. Operações como a transferência de tecnologia são urgentes.

Ativistas americanos asseguram que, mesmo sem o apoio da Casa Branca, diversos setores do país estão engajados na luta contra o aquecimento global:

— Não tem importância que Trump tenha virado as costas para o Acordo de Paris — sublinha o ator e ex-governador republicano da Califórnia, Arnold Schwarzenegger, frisando que o compromisso dos americanos se dá em todos os outros níveis. — Ninguém deixou para lá. Nós, no nível subnacional, seguramos o bastão.