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NA CBN

Projeto habitacional do governo muda a marca e tenta se apropriar dos símbolos nacionais

Todo governo tem que fazer um programa habitacional, porque o déficit é muito grande. O Minha Casa, Minha vida avançou bastante, mas deixou muita coisa incompleta. É normal que seja retomado, até com outro nome. O ruim é quando o governo muda só para dizer que foi ele que começou tudo, quando faz apenas uma nova embalagem no velho programa. O “Valor” publicou hoje uma entrevista com o Ministério do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, prepara um novo programa habitacional, o Casa Verde Amarela, para substituir o que hoje existe.

O Minha Casa, Minha Vida atendeu à população muito pobre. O Casa Verde Amarela terá como foco a regularização de imóveis das famílias de baixa renda e incentivo a juros baixos nos financiamentos imobiliários. Mas esse governo é muito contraditório. Na pandemia, foi permitida a suspensão das prestações de imóveis financiados pela Caixa, um alívio voltado para as faixas médias de renda. Mas os participantes da primeira faixa do MCMV não tiveram o mesmo benefício. A prestação paga pelos mais pobres continuou a vencer. A política pública tem que ter foco. Se a ideia é atender os mais pobres, comece pelos mais pobres. É assim que se faz.

Não parece até agora que haja algo de novo para justificar a troca de nome, a não ser o marketing político. Outra característica ruim é o uso das cores nacionais como marketing de um governo. Muitos projetos surgem já com a referência aos símbolos do país. O verde e o amarelo estão na bandeira, pertencem a todos os brasileiros. A última vez que um governo tentou se apropriar disso foi na ditadura militar. Depois da redemocratização, nenhuma administração tentou usar essas referências como marca sua. Os governos passam, a bandeira fica. A carteira de trabalho verde e amarela, um projeto que o governo nunca conseguiu aprovar, na realidade é um programa de emprego, com menos garantias trabalhistas.

O ministro Rogério Marinho está certo em concluir projetos iniciados e regularizar moradias que já existem. O ruim é a apropriação indébita de programa de outro governo. Ocorreu também semanas atrás na inauguração de um trecho da transposição do Rio São Francisco. Marinho disse na entrevista que o projeto não era do governo anterior, mas vinha desde Dom Pedro II. É evidente que a obra começou no governo Lula, que cometeu erros que critiquei aqui e volta a dizer. A transposição tem o erro original de tirar água de um rio que já sofre com a poluição, a destruição das matas ciliares o uso de suas águas como esgoto. Tem que revitalizar o São Francisco, porque a retirada de suas águas pode enfraquecê-lo ainda mais.

É bom quando os governos se complementam. O Bolsa Família, por exemplo, é uma sucessão do Bolsa Escola, ampliou o benefício, buscou os mais pobres e os miseráveis para fazer a transferência de renda. Ele tinha uma origem e foi ampliado. Na época também o ex presidente Lula não quis reconhecer o mérito do governo FH. Essa tentativa de reescrever a história é um erro. O novo programa pode até ser melhor. Mas a troca da marca apenas por razões de marketing político tem que ser criticada. A memória recente é viva, a população sabe quem fez o que.

 


 

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