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‘Transparent’, a comovente e premiada série da Amazon

Patrícia Kogut

Jeffrey Tambor em cena de 'Transparent' (Foto: Reprodução)Jeffrey Tambor em cena de 'Transparent' (Foto: Reprodução)

Há um duplo sentido no título de “Transparent”, série da Amazon premiada no último Globo de Ouro. O jogo está no prefixo trans (de transexual); e na sua sua combinação com parent, em inglês, pai (mas, no sentido amplo, genitor, ou seja, também pode significar mãe). O adjetivo transparent gerado pela soma do prefixo à terminação se aplica ao drama do protagonista. Maura Pfefferman (Jeffrey Tambor) nasceu e viveu como Morton até mais que a meia idade. Mas há muito tempo, deseja se tornar uma mulher. A hora de sair do armário chega. Ela quer ser vista como realmente é pelos filhos. Porém eles, autocentrados, não a enxergam. É como se fosse transparente, invisível.

Quando a trama começa, o protagonista, um professor aposentado, divorciado, notório namorador e pai de duas moças e um rapaz convoca os filhos para uma conversa. Morton/Maura já se veste de mulher na rua, mas ninguém em casa sabe. Ele pretende sair do armário. É uma ruidosa reunião de família. Todos conversam animadamente à volta da mesa. Uma família normal, amorosa, um grupo funcional, apesar de um ou outro problema prosaico. Os filhos têm aquele humor judaico cheio de autoironia. Estão convictos que o pai vai contar que está com câncer. Isso, na conversa de surdos, vai se estabelecendo como verdade. Maura ensaia fazer a revelação, mas, sem coragem, acaba se calando. Só diz que não é câncer. Como se sabe, a doença é um tabu clássico na cultura judaica, o que a tornou piada recorrente em filmes de Woody Allen. Allen poderia estar naquela mesa.

A cena, se não é cheia de improvisos, parece ser. É essa uma das maiores qualidades de “Transparent”. É dramaturgia, mas nunca sentimos a encenação, o texto ou a mão de um diretor. A narrativa corre fragmentada. Os acontecimentos da rotina de todos os personagens se revezam às vezes sem muita continuidade evidente para o enredo. Essa escolha da direção e do roteiro se traduz num resultado cheio de naturalidade. E é dela que advêm aqueles personagens tão humanos e reais.

O tema transexualidade tem tanta força que se impõe sobre os demais. Mas os dilemas pessoais dos filhos também servem para compor um grande cenário. É que “Transparent” trata de comunicação, de afeto e de família.

Maura é um dos mais comoventes e arrebatadores personagens da televisão. Não é à toa que deu a Jeffrey Tambor o Globo de Ouro de melhor ator. O trabalho dele é fundamental para a verdade que o público vê no programa. Tudo isso faz pensar também nessa chegada dos streaming aos tapetes mais vermelhos da televisão. Verdade que quando o Emmy contempla “House of Cards” com uma estatueta está também evitando o obsoletismo da própria premiação. Claro que a série com Kevin Spacey é ótima, mas havia outras grandes produções no páreo. No caso de “Transparent”, é mais que isso. Streaming ou não, qualquer outro ator não poderia tirar o lugar de Jeffrey Tambor na posição mais alta do pódio.

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